Concurso de Crônicas da Saúde
Confira a crônica vencedora
Publicado em 18/10/2011 16:00
VINCULO TRANSFORMADOR
BRUNA SILVEIRA CAMPOS
Sr. J. e Dona C., ele com 84 anos e ela com 83, são casados, sem filhos e vindos de Pernambuco. Em uma terra estranha para eles vivem sozinhos e mesmo com parentes morando por perto, até mesmo aqui na cidade, ninguém vai visitá-los.
Ela é portadora de Mal de Alzheimer, hipertensão arterial, luta constantemente contra dores nas pernas, por ter feito cirurgia no joelho esquerdo há muitos anos e pelo seu excesso de peso, além de já ter ficado internada por anos, durante sua juventude, em uma clínica psiquiátrica. Por todas essas doenças não consegue sequer tomar banho todos os dias, vive confusa e seu marido tem que fazer todo o serviço de casa e ainda cuidar dela sozinho.
Faço, em média, uma visita por semana na casa deles, pois sei o quanto eles confiam em mim e necessitam da minha visita.
Por quantos vezes o Sr. J., com lagrimas nos olhos, me perguntou o que faria com a sua senhora e eu não conseguia respondê-lo. Após isso, comecei a pesquisar soluções e informações para os problemas que ele me relatava, levando para ele algumas possíveis soluções, com o que fazia com que seu coração se enchesse de alegria e aumentasse, ou, resgatasse sua confiança no meu trabalho e na saúde em geral, já que quando os conheci, ele me relatava não confiar na saúde da cidade e hoje se diz muito satisfeito com as mudanças.
Procurei saber também sobre tratamento odontológico pra eles, observando que ambos necessitavam, por terem dentes totalmente deteriorados e por saber que essa situação poderia piorar a qualidade de vida dos dois. Marquei na policlínica odontológica uma consulta, agendei o transporte que os levaria, já que ele tem enorme dificuldade de andar, quando fui avisá-los, percebi o brilho nos olhos deles ao receber aquela notícia, então, Sr. J., com a felicidade estampada no rosto, disse: “Ah, que felicidade!” e começou a fazer seus repentes, que me contou se tratar de cânticos tradicionais de sua terra, dizendo com orgulho, fazer parte do folclore brasileiro como repentista.
Tudo isso fez com que eu melhorasse muito a assistência que presto, não só a eles, mas a toda população, pois consigo orientá-los muito melhor e estou certa que essa experiência me fez crescer muito como profissional, porque, as vezes, confesso que me sentia um pouco inútil na vida da população e até eu mesma comecei a me reconhecer como “a menina que marca consulta” ou ainda pior, como “a menina que recolhe assinaturas”, e hoje, mesmo que nem todos consigam entender assim, vejo o quanto a profissão de agente comunitário de saúde e a construção de uma relação de confiança são importantes para a saúde da população e me sinto muito realizada por isso.
por Assessoria de Comunicação da PMU